segunda-feira, 19 de maio de 2008

Diretor israelense aborda em Cannes papel de Israel em massacre

Fonte: Folha Online

O diretor israelense Ari Folman trouxe ao Festival de Cannes uma interessante reflexão em forma de documentário animado sobre o papel de Israel no massacre de palestinos em Sabra e Shatila (Líbano) em 1982.

"Waltz with Bashir", em competição oficial no Festival de Cannes, tem uma inteligente estrutura de documentário com depoimentos em sua maioria reais e coletados pelo diretor, que narra em primeira pessoa sua experiência como soldado na época, após a invasão israelense do Líbano.

Na produção Folman evidencia seus remorsos e os de seus companheiros pelo que descreve como um papel passivo no massacre cometido nos campos de refugiados de Sabra e Shatila, onde pelo menos 800 civis, em sua maioria mulheres e crianças, morreram pelas mãos --unicamente, segundo o filme-- de falangistas cristãos.

Os falangistas buscavam vingança após o assassinato em atentado de seu líder, o presidente eleito Béchir Gemayel.

A teoria defendida por Folman é a oficial mantida por Israel, que culpou pelo massacre os falangistas cristãos e se limitou a responsabilizar Ariel Sharon --então ministro da Defesa-- indiretamente, já que os soldados israelenses, que tinham esses campos sob seu controle, não evitaram a tragédia.

No entanto, Sharon renunciou de seu posto em 1983 e, desde 2001, é investigado pela Justiça belga por crimes contra a humanidade.

No filme, a voz de Sharon aparece e seu papel é o de conhecedor passivo do que ocorria, da mesma forma que o resto dos personagens, que mais de 20 anos depois desses fatos mostram remorso por sua falta de ação e repudiam o massacre.

O que o filme tem de mais original é sua estrutura. Copia os rostos das pessoas reais e as torna personagens, mais perto da história em quadrinhos que dos desenhos animados.

E faz isso como um documentário, misturando imagens falsamente reais com depoimentos de protagonistas da história que narra.

Com uma colocação puramente cinematográfica, o diretor joga com as cores e mal sai do espectro cinzento nas cenas de guerra, para usar, na última seqüência, posterior ao massacre, imagens reais do momento.

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